ANTIGAMENTE AS COISAS
ERAM MAIS DIFÍCEIS,
VIVIA-SE MELHOR!
A expressão é de autoria do saudoso Côn. Arnaldo Álvaro Padovani,
um verdadeiro baluarte da sabedoria: “antigamente as coisas eram mais difíceis, vivia-se
melhor! Hoje as coisas são mais fáceis, vive-se pior!”, enquanto
inaugurava a Lavandeira Industrial de nosso Seminário Maria Imaculada de
Brodowski, em 1995, época em que eu servia aquela casa de formação, como
reitor.
Em clima de COP 30, realizada em
Belém do Pará neste mês de novembro, em favor de mudanças de hábitos urgentes,
a fim de salvarmos o Planeta, cujas mudanças climáticas já nos judiam tanto,
além de ceifarem vidas humanas como nunca antes visto, não pude deixar de
relembrar a sábia reflexão do saudoso Cônego Arnaldo Álvaro Padovani, que
presidindo o Jubileu de Ouro de Fundação do Seminário Maria Imaculada, no dia
19 de março de 1995, em Brodowski, enquanto o então Arcebispo Metropolitano,
Dom Arnaldo Ribeiro, também de saudosa memória, se encontrava em Roma na Visita
ad limina: “antigamente as coisas eram mais difíceis, vivia-se melhor!
Hoje as coisas são mais fáceis, vive-se pior”!
Antigamente não tínhamos as
facilidades de nosso tempo atual. Para trocar o canal de televisão,
levantava-se da cadeira enquanto hoje temos em mãos o controle remoto.
Acomodados no sofá ou na própria cama, trocamos de canal sem precisar nos
locomover. Um excelente remédio para o sedentarismo, “engordando-nos” cada vez
mais.
Lembro-me todos os dias, ao comer
minha maçã matinal, que antigamente, minha mãe andava quatro quilômetros todos
os sábados, para fazer compras no centro da cidade. Trazia três lindas maçãs:
uma para cada filho. Aguardávamos ansiosos nossas maçãs. Eu a comia tão
devagar, para que durasse mais dias, que ela chegava a ficar pretinha. Durava
até na terça-feira, escondida debaixo da cama. Como éramos agradecidos!
Os filhos, trabalhando ainda com
menor idade, eram corresponsáveis com a manutenção da casa. Ao receberem seus
ordenados mensais, entregavam-no integralmente aos pais. Quando precisavam
algum dinheiro para si, como comprar uma roupa, calçado ou ir a alguma
“balada”, os pais lhes davam o necessário. A educação era tão burilada, que se
pedia “por
favor” e depois se dizia “muito agradecido”. Hoje os filhos trabalham
para suas próprias despesas e quando o dinheiro não é suficiente, exigem dos
pais que os sustentem e “banquem” seus prazeres, inclusive. Caso os pais não
tenham condições de suprir as necessidades dos filhos, são ofendidos e em
alguns casos até mesmo agredidos. Quando já maiores de idade, davam em casa uma
parcela do salário, como “pensão” para ajudar na manutenção da família.
As Famílias eram mais unidas e não
viviam, como em nossos dias, como se estivessem em “pensões melhoradas”. Em
cada quarto havia um quadro com a estampa da Sagrada Família e uma frase: “A Família que reza unida, permanece unida!”.
São coisas antigas e ultrapassadas. Porém, não seria a Família o lugar que mais
humaniza o ser humano? Não valeria a pena retomarmos alguns hábitos e valores
que nos resgatem da coisificação de uma Cultura da Sobrevivência, a fim de
novamente vivermos melhor hoje, como antigamente, mesmo sendo as coisas mais
fáceis?
A melhor terapia era cuidar do
jardim em frente da casa e o pomar com a horta nos fundos. Ao voltar da fábrica
de calçados, íamos mexer na terra. Não existiam as feiras de ruas como hoje.
Cada Família cultivada os alimentos que consumiam, como verduras, legumes,
frutas e os jardins diante das residências embelezavam a paisagem. Só iam a
consultas com terapeutas, pagando preços elevados a psiquiatras, psicólogos, os
economicamente privilegiados. Terapia era “coisa de ricos”, já que os pobres a
faziam com a inchada na mão. Pés descalços e mãos na terra, curavam qualquer desvio
de caráter, depressão ou angústia. Finalmente, respeitava-se a natureza sem
negar de que ela contava com a ternura humana, para sobreviver e fazer as
pessoas bem mais felizes do que são hoje!
Pe.
Gilberto Kasper
Teólogo
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