sexta-feira, 25 de abril de 2025

FRANCISCO, O PAPA DA HUMILDADE! - Padre Gilberto Kasper

 

 FRANCISCO, O PAPA DA HUMILDADE!

 

Desde sua primeira aparição no balcão da Basílica de São Pedro, no Vaticano, na chuvosa e fria noite do dia 13 de março de 2013, o então recente papa eleito, demonstrou ser Francisco, o Papa da Humildade. Ele não apenas escreveu ou pronunciou sua doce humildade, mas a traduziu em gestos e atitudes muito concretos, e para alguns do séquito papal, gestos tão simples, que chegaram a escandaliza-los. Deixou, como todo papa eleito, no interior da Capela Sistina, suas vestes vermelhas de cardeal, vestindo a batina branca de papa. Também deixou para trás seu nome de batismo, Jorge Mário Bergoglio. Doravante seria o Papa Francisco. Ao seu lado sentava o saudoso amigo pessoal, Dom Cláudio, Cardeal Hummes, de saudosa memória, que o acalmava enquanto no último escrutínio o nome Jorge Mario Bergoglio ecoava entre os afrescos de Michelangelo, na magnífica Capela Sistina. Dom Cláudio lhe dizia ao pé do ouvido: “Estamos elegendo você. Aceite, por favor, e não se esqueça dos pobres”! O Cardeal Bergoglio suava e tremia como uma vara verde. Balbuciava silenciosamente: “O Senhor não pode estar fazendo isso comigo, meu amigo”! De suas vestes cardinalícias, só levou na mão o solidéu vermelho, e quando chegou à porta de saída da Capela Sistina, colocou-o na cabeça do então Secretário do Conclave, o Arcebispo que fora Núncio Apostólico no Brasil, Dom Lorenzo Baldisseri, dizendo-lhe com uma gargalhada: “Agora este é seu”! No primeiro Consistório do Papa Francisco, Dom Lorenzo Baldisseri foi feito Cardeal e Dom Ilson de Jesus Montanari, então Oficial do Dicastério para os Bispos, sucedeu ao novo Cardeal nesse importante serviço, ainda em 2013, sendo sagrado Bispo, como Arcebispo titular de Capocilla, no dia 7 de novembro de 2013, em sua cidade natal de Sertãozinho (SP).

 

Alguns detalhes demonstram a humildade e o desapago do Papa Francisco. Ao chegar ao balcão da Basílica de São Pedro, o cerimoniário (mestre de cerimônias) quis colocar a suntuosa e belíssima estola vermelha, bordada com linhas douradas e cravejada com pedras preciosas, sobre os ombros do Papa, que se recusou a utilizá-la, a não ser na hora de sua primeira bênção Urbi et Orbi (Sobre Roma e o Mundo). Seu olhar sobre a multidão que lotava a Praça de São Pedro e suas primeiras palavras foram tão simples, tão cheias de ternura e humildade, que de pronto encantou o mundo inteiro. Não houve discurso teológico, não houve sermão, não houve promessas. Apenas dois pedidos: “caminhemos juntos”, que ao longo de seu pontificado revelou seu desejo de uma Igreja sinodal, e “rezem por mim”, pedido esse que fez até sua última aparição pública.

 

Durante o jantar na Casa Santa Marta com todos os Cardeais, após sua apresentação ao mundo, Francisco teria dito ao brindarem sua eleição: “Deus nos perdoe o que acabamos de fazer”, referindo-se à sua própria eleição. A maioria dos Cardeais deu longas gargalhadas. Não me perguntem, se todos riram. Mas isso é humano. Desde o início de seu Pontificado, Francisco buscou humanizar tanto seu ministério, como tudo o que se passa entre os muros que cercam o Vaticano. Por isso logo o Papa sugeriu uma “Igreja em Saída” e a exemplo de São João XXIII, começou abrindo as portas e janelas de ambientes mal cheirosos, mofados, esclerosados, enfim. Não existe nada mais autêntico, do que a transparência para superar qualquer tipo de hipocrisia

 

Já Papa eleito, dirigiu-se à Portaria da Casa Santa Marta para pagar sua hospedagem, o que deixou os administradores da Casa de Acolhida estarrecidos. Nos ensinou a honestidade: nada de abuso de poder, como tantos chefes de estados e políticos agem. Fez questão de ir e vir, até a Celebração do Início de seu Ministério Petrino, juntamente com os irmãos Cardeais na Van, ao invés de uma Limosine reservada ao Papa. Numa dessas curtas viagens da Casa Santa Marta ao Palácio Apostólico, sentou-se ao lado de Dom Raymundo Damasceno de Assis. Ao lhe apresentarem o andar em que deveria residir no mesmo Palácio Apostólico, imediatamente se recusou a viver lá. Disse que ficaria muito isolado e distante do povo. Que “o pastor deve sentir o cheiro de suas ovelhas” e gostaria de ficar entre pessoas, lá onde as pessoas estivessem. E assim passou a residir na Casa Santa Marta, por onde passam, diariamente, clérigos e leigos do mundo inteiro. Preferiu lavar os pés de detentos e detentas em Presídios, ao invés de pessoas perfumadas, como muitos de nós fazemos em cada Quinta-Feira Santa, premiando, desse modo, nossos bajuladores ou as pessoas que consideramos “certinhas”! É bem verdade que o Papa Francisco deu bastante trabalho à sua Segurança, mas foi assim que nos permitiu chama-lo Francisco, o Papa da Humildade!

 

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo

 

 

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