“ESTOU
COM FOME”, COMO AJUDAR?
Constatamos
um aumento assustador de pessoas em esquinas com semáforos de nossa cidade, com
papelões nas mãos e a inscrição “Estou com Fome”. A maioria mal vestida, com
aparência de extrema pobreza. É uma das “cortinas” que a realidade nua e crua
abre, sugerindo a gritante desigualdade social entre nós. Algumas dessas
pessoas são extremamente educadas e se demonstram compreensivas quando não
atendidos em seus apelos de uma moeda. Já outras se parecem mais irritadas e
até mesmo agressivas quando não obtêm êxito em seus pedidos. Já assisti
automóveis sendo riscados por alguns outros, que transitam num piscar de olhos
entre carros aguardando o sinal abrir. As “drogas sintéticas” já chegaram a
Ribeirão Preto, e as pessoas delas dependentes mais parecem “Zumbis”; pessoas
andando de um lado a outro, sem conseguirem parar de pé. Que tragédia, meu
Jesus de Deus!
Fico
imaginando o perigo a que se expõem essas pessoas, podendo ser atropeladas por
algum condutor desavisado, impaciente, apressado seja de carro ou de moto. Não
assisti a nenhuma notícia de atropelamento nesses locais, até agora, graças a
Deus!
Quando
me vem a tentação de pré-julgamento à cabeça, de que tais pessoas sejam
dependentes químicos ou alcoólatras, meu coração me avisa, de que na aparência
deles, pode-se contemplar a presença do próprio Cristo. E como deve ser então
meu comportamento diante de situação caótica como essa? Ajudar com algum valor?
Ter sempre algum dinheiro à disposição para evitar mexer em carteira e atrasar
o arranque do carro na hora em que o sinal abre? Dizer que não tenho dinheiro à
mão naquele momento? Ou simplesmente ignorar a pessoa que se aproxima com o
papelão na mão ou a mão estendida? Não há outro jeito a não ser perguntar a
própria consciência.
A
questão parece ser muito mais profunda do que simplesmente resolver o que a
consciência pessoal indica. Até que ponto sou eu o responsável por tamanha
“enfermidade social”? De quem seria a responsabilidade? Como agir?
Conhecemos
incontáveis iniciativas que amenizam a fome, o frio, as necessidades básicas
das pessoas em situação de rua em nossa cidade. Muitas de nossas Comunidades de
Fé com seus abnegados agentes de pastoral, de religiões diversas, vão ao
encontro desses nossos irmãos, levando-lhes alimentos, vestuários, cobertores e
produtos de higiene. Outras tantas Comunidades oferecem cestas básicas e têm
milhares de famílias em situação de extrema vulnerabilidade. Há, também,
iniciativas muito criativas de empresas, agremiações, da iniciativa privada,
enfim. Ninguém duvida das demonstrações de solidariedade descobertas,
especialmente em tempo do Natal e Passagem de Ano. O povo é profundamente
solidário e fraterno. Sensível e não hesita em partilhar da própria pobreza
para amenizar necessidades básicas que causam dor e indignação. Mas tais
auxílios pontuais não resolvem o problema.
Sabemos
que somos um país rico. Nossa cidade também é considerada ricamente
privilegiada. Porém, sabemos também, que a menor fatia do bolo dos orçamentos
públicos, que só existem porque pagamos impostos, os mais altos, é destinada à
Secretaria da Assistência Social. Haja criatividade para atender às demandas
que crescem a cada dia. A criatura humana continua sendo relegada a segundos,
terceiros e quartos planos de políticas públicas desumanas. É também verdade
que a maioria das pessoas que pedem nos semáforos, não aceita acomodação nas
casas de acolhimento, quando abordadas pelos Servidores da Assistência Social.
Ao
invés de esmola já passou da hora de juntos, encontrarmos soluções mais
criativas que devolvam a dignidade das pessoas em situação de vulnerabilidade.
Não bastam respostas imediatas e rasas à nossa consciência ou o que muitos
chamam de “desencargo de consciência”. É urgente remetermos nossas sugestões de
soluções criativas às OSCs (Organizações da Sociedade Civil ou ONGs),
levando-as mais a sério e colaborando para que consigam desenvolver seus
Projetos Sociais com mais tranquilidade. Porque são elas, as OSCs, como o FAC –
Fraterno Auxílio Cristão, por exemplo, que promovendo as pessoas em sua
dignidade humana, que evitam ou pelo menos diminuem pessoas nos semáforos com
os papelões nas mãos, dizendo: “Estou com Fome”. Como ajudar?
Pe.
Gilberto Kasper
Teólogo
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